A Vingança

Não resistais ao mal que vos queiram fazer. Mateus 5, 38.

A fatalidade da vida é alcançar a harmonia plena, mediante o equilíbrio do amor a si mesmo, ao próximo e a Deus. (...)

Na Sua condição humana entre os homens-pigmeus que O detestavam, Jesus enfrentou as suas agressões e diatribes, sem permitir vincular-se-lhes por meio do ressentimento, menos do ódio, jamais por qualquer expressão de vingança.

Nunca se poupou aos enfrentamentos, não obstante, nunca sintonizando pela ira com os atormentados-atormentadores que sempre O buscavam para afligi-lO e testá-lO.

Não resistia contra eles, desafiando-os ou com eles entabulando discussões estéreis quão venenosas.

Suave, passeava a Sua presença entre os seus bafios pestosos e os seus doestos, sem os vitalizar com qualquer tipo de vinculação emocional. (...)

Oferecer o outro lado, quando se é esbofeteado na face, é quase inverossímil para a cultura ocidental, acostumada ao revide pela honra, ao duelo, com armas no passado, verbal em todos os tempos, através d justiça igualmente em todas as épocas.

Ele demonstrou que era possível fazê-lo, e viveu a experiência pessoal.

Trata-se, à luz da psicologia profunda, de provar que o Bem é mais forte do que o mal, que a não violência é o antídoto para a ferocidade, a paciência é o remédio para a irritação, a esperança é o recurso para o desalento...

(...) Ele desejou expressar exatamente a coragem para enfrentar o mal equipado pelo Bem, enriquecido pelo amor, desarmado de sentimentos morbosos de vingança, sem o elixir do ódio a sustentar a inferioridade evolutiva...

Essa atitude de Jesus é varonil, mais forte do que a belicosidade dos militares preparados para destruir. O não matar, o não ser violento, constitui o mais grandioso desafio cultural e emocional que a criatura humana pode experimentar. (...)

Ele não dizia com ira ou paixão morbífica, mas com a autoridade de quem conhecia a Lei de causa e efeito, da qual ninguém se exime, estando todos os seres incursos nesse fundamento da Natureza. (...)

Duas expressões aparentemente opostas se mesclavam no caráter do Homem-Jesus.

Não resistir ao mal, a fim de não vitalizar a escravidão aos instintos inferiores, primários, que dirigem as criaturas não espiritualizadas, não elevadas. Afirmar o Bem e exercer a coragem para sofrer as consequências da opção elegida, como forma de superar a voragem do desespero e o desregramento de conduta que assolam em todos os tempos e culturas.

O conceito estabelecido para não resistir ao mal é tido por conduta feminina, atitude tímida que caracterizava a submissão da mulher aos caprichos do homem. A energia ensinada e a autoridade exteriorizada em relação aos pusilânimes e astutos, expressava manifestação masculina, típica da virilidade do homem agressivo e corajoso.

Jesus sintetizou as duas naturezas, fundindo em unidade harmônica a anima ao animus, harmonizando a Sua conduta sem traição de qualquer arquétipo ancestral em uma imagem integrada de Ser ideal. (...)

Recomendasse Jesus o revide, se Ele assim o fizesse conforme gostariam os imediatistas e os cômodos, teríamos um exemplo de unilateralidade de conduta, excluindo a face amorosa e compadecida. Se, por outro lado, apenas a compaixão e a tolerância predominassem no Seu comportamento, veríamos um tíbio, apresentado em uma formulação desencorajadora para a reconstrução da sociedade, que se faria piegas e medrosa.

A coragem é não revidar ao mal, nem sequer pensar no mal, não se permitir sentir o mal.

A imagem subjetiva de Jesus-Homem é a de um triunfador, que se superou a si mesmo, tornando-se o Exemplo que conforta e o Roteiro que conduz ao Porto. Por outro lado é o Guia, cuja vivência jamais desmentiu os ensinamentos e é o Caminho, por haver percorrido a vereda que traçou como diretriz de segurança para os que nEle acreditassem.

Todos quantos resistem ao mal, tornam-se vítimas de tormentas de vária ordem, tombam na loucura, ou fazem-se famanazes do crime, da hediondez, da vingança...

Aqueles que revidam ao golpe infeliz recebido, não se postando pacientes a oferecer a outra face, transformam-se em criminosos iguais àqueles que os infelicitam e os perseguem.

Certamente, o instinto de conservação precata o indivíduo de deixar-se consumir pela impiedade ou de ser arrastado injustamente ao poste do sacrifício.

Honestamente, não foi exatamente assim que Ele procedeu, deixando-se imolar, sem revide nem justificativa para fugir do testemunho?

Igualmente, todos quantos O seguiram, também não se entregaram ao matadouro, alguns cantando hosanas? (...)

Vitorioso é somente aquele que se vence interiormente, mesmo que vencido exteriormente, por isso amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Joanna de Angelis in Jesus e o Evangelho – à luz da psicologia profunda

in principio...


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